(The Devil All the Time, 2020), de Antonio Campos. Com Tom Holland, Robert Pattinson, Bill Skarsgard, Sebastian Stan, Harry Melling, Eliza Scanlen, Mia Wasikowska, Riley Keough, Haley Bennet e Jason Clarke.

O Diabo de Cada Dia parece um um primeiro momento uma antologia de histórias que se entrecruzam e mantém relação temática com a religião, a fé e a maldade das pessoas em uma região rural, bem ordinária do interior dos Estados Unidos. Não por acaso a história se passa entre a Segunda Guerra Mundial e a Guerra do Vietnã, dois períodos históricos que influenciaram fortemente a sociedade americana, uma época em que era vendida a idéia de que o mal estava além das fronteiras.
Abraçando sua origem literária através da narração feita pelo autor do livro Donald Ray Pollock, a narração tem um tom de contação de história, funciona para acrescentar algumas informações e como ponte em determinados momentos da narrativa, um artifício perigoso, mas que funciona justamente devido ao tom e o sotaque empregados pelo narrador.
O roteiro escrito pelo diretor Antônio Campos e seu irmão Paulo Campos (ambos filhos de pai brasileiro), usa a reunião de um culto de domingo como o momento perfeito para apresentar e juntar personagens, já explicitando alguns dos temas recorrentes ao longo do filme.
Narrando a história de duas gerações de duas famílias, que parecem herdar os problemas do passado, o filme é extremamente violento e funciona como uma forte crítica ao fanatismo religioso, muito forte em áreas mais conservadoras, característica ainda presente nos dias de hoje.
A região em que se passa a história e a época são habitadas por uma sociedade patriarcal muito temente a Deus. Uma sociedade onde as mulheres são totalmente passivas e vêm na relação com os homens da igreja, uma oportunidade de salvação, já a maior parte dos homens têm uma relação destrutiva com sua visão distorcida e muito particular de fé.
O filme tem um clima pesado, faz uso de cores dessaturadas, dando um aspecto de falta de vida aos ambientes. O design de produção é muito eficiente em situar a passagem de tempo através dos figurinos e cenários, mas sempre mantendo o aspecto desgastado, como se o tempo mudasse, mas os principais aspectos daquelas comunidades se mantivessem.
Chama a atenção o elenco recheado de grandes nomes, encabeçado por Tom Holland, Robert Pattinson, Jason Clarke e Bill Skarsgard. Pattinson interpreta um pastor excêntrico, têm um estilo charmoso, uma mistura de Elvis com pastor e têm uma atuação que vêm sendo muito elogiada, mas o tom caricatural do personagem (que é totalmente proposital) me incomodou, soou deslocado do restante da obra.
O grande destaque fica com Bill Skarsgard. Seu papel como o veterano de guerra Willard, é o mais pesado do filme. Um personagem complexo que carrega traumas da guerra e renega a religião, para depois criar um forte laço com a imagem da cruz, imagem fortemente relacionada com sua experiência no conflito.
Com um ritmo lento, um número grande de personagens (alguns totalmente desnecessários) e uma longa duração, O Diabo de Cada Dia não é uma experiência fácil, mas compensa pelos temas abordados e pelas boas atuações. O filme funciona como uma espécie de estudo entre as relações da fé e violência, usando como recorte um período histórico que foi um hiato entre duas das guerras mais violentas daquele país.
Acena final sugere um encerramento cíclico, mostrando que a maldade é inerente ao ser humano, vai estar sempre presente e de certa forma, o passado também.
Felipe Fernandes
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